segunda-feira, 18 de junho de 2012

Chega Pai, tô caindo fora!

"Olá Pai, serei direto e coeso: Estou cansado de viver essa vida, onde tudo tem um limite e estou sempre tendo que cumprir ordens; onde quase nunca faço o que eu quero, e quando faço o que quero, sinto algo me incomodando internamente. Estou cansado de ser o "politicamente correto" e "alienado" do meu grupo de amigos. Quero beber, fumar, chegar tarde em casa, transar antes do casamento, falar do jeito que eu quiser, sem ter que dar nenhuma satisfação. Eu quero viver! Pra quê tantas regras e pra quê tantas obrigações, oras? Chega de tantos dogmas primitivos sem nexo algum, e chega também de infinitas perguntas sem resposta alguma. Na minha visão, é insanidade eu continuar seguindo uma espécie de paradigma de como devo falar, agir, e até mesmo, pensar. Isso é um absurdo! Não é nada pessoal, sério. Apesar de tais regras as quais estou cansado, o senhor sempre me tratou bem. Nossa relação nos últimos meses não tem sido uma das melhores, e o senhor sabe disso. Quase nunca conversamos, e quando conversamos, é para eu lhe pedir dinheiro, ou reclamar que está faltando algo dentro de casa; e como também ultimamente estou o decepcionando muito,  creio que a única solução é eu me afastar do senhor e fazer a minha própria vida. Irei visitá-lo duas ou três vezes ao mês. Agora, irei ganhar o mundo. Tenho alguns trocados, algumas roupas e o meu talento, creio que isso já é o suficiente.Sei que será difícil para o senhor, mas saiba também, que não será fácil para mim. Não tente vir atrás de mim
Ass.: Rafael"

Esse foi o bilhete deixado por Rafael na cabeceira de seu pai. Ao lê-lo, o seu pai, Emanuel, sentiu uma profunda tristeza e chorou amargamente sozinho dentro seu quarto. Emanuel não entendeu o porquê de tal atitude, afinal de contas, ele foi o melhor para seu filho durante todo o tempo em que estivera junto com ele. O apoiou, o consolou, o fez rir, o corrigiu, o ajudou; enfim, foi um verdadeiro pai. Tais “dogmas” citados por Rafael, nada mais são do que  regras que Emanuel impôs para o bem de seu próprio filho. Rafael é jovem e inexperiente, e não entende qual o melhor para ele; entretanto, seu pai é sábio e experiente, e sabe perfeitamente qual o melhor para seu filho.

Rafael não foi muito longe. Ele foi morar em uma cidade vizinha, junto a um grupo de amigos mais velhos.
Seu pai sabia exatamente onde ele estava, porém fez o que Rafael pediu, não foi atrás dele.
Uma semana, duas semanas, três semanas. A cada dia longe de seu filho, Emanuel sentia-se cada vez mais triste, enquanto Rafael vivia de modo insano sua vida. As tais visitas que Rafael jurou fazer, eram mentiras; até agora, ele nem sequer ligou para seu pai. não muito tempo depois, Emanuel recebe um e-mail com a seguinte mensagem:

"Oi Pai, sou eu, seu filho. Eu estava enganado, a minha vida não seria melhor sem o senhor, pelo contrário, sem o senhor, ela não faz o menor sentido. Eu fui enganado pelo meu próprio coração, e abatido pelos meus próprios meios. O que antes parecia ser perfeito, hoje vejo que é ilusão. Agora vejo o quanto o mundo é enganador e cruel, e que o senhor só creia me proteger dele. De primeira, o mundo me acolheu e me mostrou o que parecia ser o Mundo das Maravilhas; meus olhos se encheram, e eu mergulhei de cabeça nesse mundo. Porém, logo depois eu fui saber a verdadeira face do mundo em que eu estava: uma face enganadora, cruel e injusta. Agora, estou morando em um abrigo, porque meus "amigos" me abandonaram logo que perceberam que meu dinheiro havia acabado. Estou enviando essa mensagem pelo computador de um funcionário. Gostaria infinitamente de voltar a morar com o senhor e estar sempre em sua presença. Sei que não mereço, mas gostaria. Irei passar em frente a sua casa amanhã às 12:00, e caso queira me aceitar, dê uma pequena pincelada azul na borda calçada. Use a tinta que sobrou da antiga reforma da casa -Pode deixar a chave da casa na caixa do correio, se o senhor preferir-. Caso não pinte, entenderei perfeitamente e irei embora pra sempre."

Chegado o dia e o horário marcado, lá estava Rafael, indo à direção a sua antiga casa. Seu coração estava na boca e batia rápido como nunca antes; o seu futuro estava prestes a ser decidido. Ao virar a esquina de sua antiga rua e avistar a sua casa, Rafael não encontrou nenhuma pincelada azul na borda da calçada e tampouco a chave no correio. Ele encontrou a fachada, o portão e a calçada de sua casa completamente pintados de azul, fitas e mais fitas azuis cobriam a árvore que ali ficava; e lá estava seu pai, de braços abertos e com um sorriso enorme no portão de sua casa.

-Desculpa pai... Eu, eu... Eu nem sei o que te falar! -Diz Rafael com lágrimas em seu rosto-

-Não lhe culpo em achar que fico em silêncio. Não lhe impeço de aproveitar a sua vida como você bem queira e tão pouco quero você como um escravo das minhas vontades. O que desejo pra você, meu filho, é apenas o melhor. Sei que você pensa que fico em silêncio muitas vezes, mas na verdade eu sempre tento me relacionar com você, porém você gosta de ouvir mais o que lhe agrada e sempre está ocupado e não tem tempo pra mim. Filho eu jamais te deixarei e nunca te desampararei. É impossível te esquecer; você é a razão do meu amor! -Emanuel também com o rosto repleto de lágrimas-

E lá ficam os dois durante um bom tempo: abraçados fortemente,  compartilhando uns aos outros. A solidão que Rafael havia sentindo, agora é substituída pelo caloroso e amável abraço de seu pai, Emanuel.

E com você, como está seu relacionamento com o seu Pai Emanuel?

Ellysson Rocha


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